"The roots don't depend on the tree. The tree depends on the roots." / "As raizes não dependem da árvore. A árvore depende da raíz."

Thursday, February 3, 2011

África Não é Uma Teoria

" A coisa mais escura de Africa tem sido sempre a nossa ignorância sobre ela" - George Kimble

  

Das belas paisagens naturais, as ásperas estradas asfaltadas. Das reuniões a volta da fogueira, aos momentos familiares, e entre amigos, em frente a tela da TV. Dos baldes de água do rio transportados a cabeça, aos camiões que transportam água para fábricas e estabelecimentos urbanos. Dos toques de batuque, tambor e marimba, as noites de dança e música já influenciadas pela globalização.  Dos trajes mais simples feitos de pele de animal, as modas urbanas que fazem parte do dia a dia dos Africanos. Das línguas tradicionais africanas, aos idiomas adquiridos pela colonização. Tudo isso faz parte de uma África de hoje, uma África contemporânea, da qual, orgulhosamente, faço parte, embora morando fora dela há mais de uma década. Ela é VIVA, e está presente na minha consciência, e de mais africanos, desta forma vibrante.

Quando converso com a minha família e amigos que lá residem, falamos de problemas sociais, culturais, morais, e outros mais. Falamos de coisas que fazem parte do quotidiano africano. Em contra-partida, maior parte das conversas que tenho tido com pessoas que nunca estiveram em África, ou pessoas que fazem turismo “com preconceito”, são geralmente baseadas numa África imaginária, não uma África real e viva. Tentando impor seus preconceitos, muitas vezes descartando a minha própria experiência como Africana nascida e criada no continente, essas conversas são, em parte, muito desgastantes para mim. Por exemplo, quando eu digo o meu nome, que é de origem da língua portuguesa, muitas pessoas ficam chocadas. Pre-determinam que uma pessoa Africana deve automaticamente ter um nome de origem Africana, o que não deixa de ter lógica., mas não é a realidade que se vive lá. Entretanto, feliz ou infelizmente, nomes com origem em línguas europeias, são hoje usados em África. Isto sim, é real. 

 


África tem sido fonte de renda para países do mundo inteiro. De igual modo, tem sido uma fonte de conhecimentos culturais, informações históricas, cientificas, etc. Um continente tão rico como aquele,  merece não só o seu lugar de direito na história mundial, mas como também um lugar apropriado em dias modernos, baseado na realidade em que as mais diversas sociedades daquela porção de terra se encontram. África, o segundo continente com maior número de habitantes, com 54 países, incontáveis grupos étnicos, com a sua enorme Diáspora espalhada pelo mundo, não deve ser tratado como um lugar onde só se encontram leões, onde só existe pobreza, e miséria. Um lugar onde muitos vão em expedições missionárias, de caridades, e exploração de recursos naturais, e que é muitas vezes marginalizado por muitos internacionalmente.  

Não se trata simplesmente das pirâmides do Egipto, do reino Ashanti, de youruba, lugar proveniente de escravos, da magia negra, das selvas, rainhas, reis, da miséria, dos governos corruptos, do lugar que está desesperado por ajuda de povos estrangeiros. África hoje é muito mais que isto. Habitada por pessoas intelectuais, devidamente instruídas, no continente, no Ocidente, pessoas ricas financeiramente, que desfrutam de uma vida de luxos. Uma variedade de culturas, hábitos e costumes, fazem parte da África moderna, onde, até hoje, respeitam-se certas tradições, e a voz dos mais idosos.  

O mundo tem testemunhado certas transformações no continente, e uma nova face africana, a África Urbana. Esta África é caracterizada por uma fusão de culturas africanas, do ocidente, e até mesmo do oriente. Musicas com novos ritmos, modas com um novo sabor, e outros estilos de vida que muitos africanos decidem aderir, ou simplesmente se enquadram naturalmente. Isto se manifesta, em parte, devido a globalização, e ao factor imigração. Muitos africanos vão para o exterior, por razões várias, e adquirem, de uma forma natural, um novo estilo de vida, que serve a realidade de cada um destes. Por outro lado, a media e os órgãos de difusão massiva, também influenciam esta nova “cultura” (sendo cultura uma forma de viver).


É também nessa África urbana, onde nós pretendemos inserir Capoeira Africana, como estilo de vida, e como um veiculo de expressão artística, intelectual, social, e espiritual. Desta África onde muitos de nós Africanos, e não Africanos vivemos, queremos usufruir os mais óbvios benefícios.


VIVA AFRICA!

Lúcia Kudielela Fernandes

Capoeira Africana